A dinâmica hidrológica e a geomorfologia regional ditam o cotidiano daqueles que moram na área metropolitana. A rotina diária de quem sai de sua casa para trabalhar, estudar e desenvolver diversas atividades está estritamente relacionada às condições físicas (relevo, clima, hidrografia) e vocação social, econômica e cultural da cidade.
Santo André, onde moro há 32 anos, é uma cidade de muitos rios e córregos - Guarará, Oratório, Apiaí, Meninos, Pequeno, Grande, Carapetuba, Cemitério, Guaixaya, Tamanduateí. Porém, alguns só conheci durante o curso de Geografia, através de mapas. Ignora-se suas existências, modifica-se suas configurações - curvas e meandros, retifica-se, canaliza-se seus cursos naturais e durante boa parte do ano os rios ficam quietinhos. Só se rebelam quando chega o período de chuvas abundantes e suas águas teimam em ocupar o espaço que foi delas.
Vivenciei duas situações de “revolta” do Rio Tamanduateí: uma em janeiro de 1996, quando se tornou uma aventura atravessar o rio, do Centro para o Parque Jaçatuba, à pé, fazendo o percurso, que normalmente leva 15 minutos de transporte coletivo, em 6 horas (pela Estação S. André e Viaduto Adib Chammas); outra em 2004, de carro pela Avenida dos Estados, o rio encheu rapidamente e foi impossível sua travessia para chegar ao Parque Capuava. Em ambas as situações, a solução foi esperar que o nível das águas baixassem e o rio continuasse seu curso.
Pensando em qualidade de vida e economia de tempo e dinheiro, optei por realizar a maioria das minhas atividades no próprio bairro onde resido - Parque Capuava (interflúvio entre o Tamanduateí e Oratório). Moro na Rua Mississipe, que inicia na Avenida das Nações, por onde corre “escondido” o Córrego Guaixaya. Para chegar a uma das escolas que trabalho, localizada no Parque Erasmo, preciso atravessar a avenida, percurso que faço a pé.
Já observei que em dias quentes e secos percebe-se o mal cheio exalado pelas “aberturas” , nas proximidades da Coop; em dias chuvosos, toda a água da enxurrada escoa para a avenida. O asfalto da pista, onde o tráfego de veículos é mais intenso, está todo danificado. As casas mais próximas da avenida apresentam muita umidade.
Há mais de trinta anos atrás o Córrego Guaixaya corria aberto e sua várzea era ocupada por vegetação (mamona) e crianças brincavam enquanto os adultos pescavam - é o que os mais velhos relatam, pois depois do loteamento, planificação e impermeabilização dessa área muitos até desconfiam de que um curso d’água corra sob seus pés.
É fato que a preocupação com rios e córregos aumentam com a chegada da estação úmida. O cotidiano das pessoas é alterado pelo ciclo natural (que deve ser combatido? Combate contra as enchentes? Contra o ciclo natural?) e não se planeja / executa ações efetivas que relevem o conhecimento dessa dinâmica.
Fabiana Paino Granzotto
Santo André, 19 de dezembro de 2009.
Santo André, 19 de dezembro de 2009.
(Ed. Ambiental e Sustentabilidade)