sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cursos d’água relacionados ao cotidiano

Vista de Santo André no verão de 2008

A dinâmica hidrológica e a geomorfologia regional ditam o cotidiano daqueles que moram na área metropolitana. A rotina diária de quem sai de sua casa para trabalhar, estudar e desenvolver diversas atividades está estritamente relacionada às condições físicas (relevo, clima, hidrografia) e vocação social, econômica e cultural da cidade.

Santo André, onde moro há 32 anos, é uma cidade de muitos rios e córregos - Guarará, Oratório, Apiaí, Meninos, Pequeno, Grande, Carapetuba, Cemitério, Guaixaya, Tamanduateí. Porém, alguns só conheci durante o curso de Geografia, através de mapas. Ignora-se suas existências, modifica-se suas configurações - curvas e meandros, retifica-se, canaliza-se seus cursos naturais e durante boa parte do ano os rios ficam quietinhos. Só se rebelam quando chega o período de chuvas abundantes e suas águas teimam em ocupar o espaço que foi delas.

Vivenciei duas situações de “revolta” do Rio Tamanduateí: uma em janeiro de 1996, quando se tornou uma aventura atravessar o rio, do Centro para o Parque Jaçatuba, à pé, fazendo o percurso, que normalmente leva 15 minutos de transporte coletivo, em 6 horas (pela Estação S. André e Viaduto Adib Chammas); outra em 2004, de carro pela Avenida dos Estados, o rio encheu rapidamente e foi impossível sua travessia para chegar ao Parque Capuava. Em ambas as situações, a solução foi esperar que o nível das águas baixassem e o rio continuasse seu curso.

Pensando em qualidade de vida e economia de tempo e dinheiro, optei por realizar a maioria das minhas atividades no próprio bairro onde resido - Parque Capuava (interflúvio entre o Tamanduateí e Oratório). Moro na Rua Mississipe, que inicia na Avenida das Nações, por onde corre “escondido” o Córrego Guaixaya. Para chegar a uma das escolas que trabalho, localizada no Parque Erasmo, preciso atravessar a avenida, percurso que faço a pé.

Já observei que em dias quentes e secos percebe-se o mal cheio exalado pelas “aberturas” , nas proximidades da Coop; em dias chuvosos, toda a água da enxurrada escoa para a avenida. O asfalto da pista, onde o tráfego de veículos é mais intenso, está todo danificado. As casas mais próximas da avenida apresentam muita umidade.

Há mais de trinta anos atrás o Córrego Guaixaya corria aberto e sua várzea era ocupada por vegetação (mamona) e crianças brincavam enquanto os adultos pescavam - é o que os mais velhos relatam, pois depois do loteamento, planificação e impermeabilização dessa área muitos até desconfiam de que um curso d’água corra sob seus pés.

É fato que a preocupação com rios e córregos aumentam com a chegada da estação úmida. O cotidiano das pessoas é alterado pelo ciclo natural (que deve ser combatido? Combate contra as enchentes? Contra o ciclo natural?) e não se planeja / executa ações efetivas que relevem o conhecimento dessa dinâmica.





Fabiana Paino Granzotto
Santo André, 19 de dezembro de 2009.


(Ed. Ambiental e Sustentabilidade)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Devaneios...




Faz tempinho que publiquei no flog, mas merece reprise:




06/04/08

O que ficou de "Os Devaneios da Intimidade Material"



-A vontade de olhar para o interior das coisas torna a visão aguçada, a visão penetrante. Transforma a visão numa violência. Ela detecta a falha, a fenda, a fissura pela qual se pode violar o segredo das coisas.




-Ver além do que se vê; ir para dentro do outro: o outro é uma convocação imediata, um pedido de socorro.




-Decerto a felicidade é expansiva, tem necessidade de expansão. Mas também tem necessidade de concentração, de intimidade. Trata-se de uma grande felicidade porque ela é uma felicidade oculta. Todo interior é protegido por um pudor.




-Mas se um sonhador, acredita que a natureza é artista, que a natureza pinta e desenha, não poderá ela esculpir tanto a estátua de pedra, quanto moldá-la na carne?




-O sonhador, em sua vontade de potência insidiosa, identifica-se com uma força que impregna para todo o sempre. A marca pode apagar-se. A tintura certa é indelével.




-A admiração é a forma primária e ardente do conhecimento, um conhecimento que enaltece seu objeto, que o valoriza. Um valor, no primeiro encontro, não se avalia: admira-se.




-O interior sonhado é calido, jamais ardente. O calor sonhado é sempre suave, constante, regular. Pelo calor, tudo é profundo. O calor é o signo de uma profundidade, o sentido de uma profundidade....




Confirmação de muitas coisas.


Fiquei experimentando e digerindo esse texto durante o final de semana.


Que eu não deixe de me apaixonar...


Que eu não duvide tanto...


Que eu permita outras possibilidades...


Que eu sinta prazer no final.

fabiana paino granzotto disse em 08/04/08 21:45 …
Noite passada sonhei que tinha por tarefa pintar um quarto. No sonho, preparava a tinta branca numa bandeja e a ela pingava gotas de tinta preta (para criar um "cinza claro"). Misturava-as com as mãos, como quem brinca em água com sabão. E isso era bom, mesmo sabendo que deveria usar, pelo menos, um par de luvas ou um pincel para tal façanha.






Fabiana Paino Granzotto, ao ler e experimentar Gaston Bachelard no "Oralidade Poética"e admirar uma tarde outonal.