Na foto, Verônica e eu. CESA Cata Preta.
Qual o limite da loucura e da sanidade?
Qual a relação entre felicidade e loucura?
Ao ouvir esta história escrita por Ricardo Azevedo refletimos sobre nossa própria vida, sobre algumas atitudes que tomamos frente aos percalços que ela nos oferece e o quanto somos preconceituosos diante do diferente e daquilo que não nos é comum.
Escolhi esta história porque ela me encanta e gosto de apresenta-la de maneira bem-humorada (com intervenções dos Mutantes e a canção “Balada do Louco”) para pessoas de todas as idades.
Era noite escura. Um carro vinha passando na frente de um hospício. De repente, o pneu furou. Descendo do carro, o motorista abriu o porta-malas e pegou o pneu reserva. Depois com o macaco, tirou o pneu furado e colocou os parafusos numa latinha. Quando colocava o pneu reserva na roda, passou um automóvel em alta velocidade atirando a latinha longe.
O sujeito ficou um tempão procurando os parafusos, mas não achou nada. Desanimado, sentou-se na calçada sem saber o que fazer. Sem os parafusos, como iria prender o pneu? O pior: uma garoinha fria e fina começava a cair.
Estava assim quando escutou um barulhinho.
_ Psiu, moço.
Era um louco sentado no alto do muro do hospício. Vestia um pijama listrado, tinha uns óculos desenhados no rosto e um penico enterrado na cabeça.
_ Furou o pneu aí?
O homem do carro não queria puxar conversa, mas, por educação, achou melhor responder:
_ Furou, e o pior é que os parafusos sumiram.
O louco coçou a orelha com um espanador.
_ Mas isso é muito simples!
“Lá vem besteira”, pensou o homem.
_ Primeiro – explicou o louco – o senhor tira um parafuso de cada pneu; depois prende o pneu novo com os três parafusos. Com um parafuso a menos em cada roda, dá para andar muito bem. Amanhã, logo cedo, o senhor procura uma loja, compra um jogo de parafusos novos e o assunto está resolvido.
O homem ficou admirado. A idéia era muito boa. Em pouco tempo, o carro estava pronto para continuar a viagem.
Antes de partir, agradecido, o homem do carro quis saber:
_ Desculpe a pergunta, mas você não é louco?
_ Sou – respondeu o outro, picando uma nota de cinco reais com uma tesoura.
_ Como conseguiu ter uma idéia tão boa?
O louco sorriu:
_ Sou louco, mas não sou burro!
Ricardo Azevedo. Você me chamou de feio, sou feio mas sou dengoso. Fundação Cargill – Coleção Fura-Bolo, 1999. p. 12-13.