terça-feira, 27 de julho de 2010

Primavera nasce no inverno?


Luxo o ócio matutino e noturno numa terça-feira!

Tô aqui sozinha (para variar), sem sentir remorço ou melancolia por isso (o que é melhor!)

Liguei o computador com a ideia de ampliar horizontes, atualizar a linguagem, matar umas curiosidades... Hahaha! Mentira!

Tô ouvindo George Harrison, comendo morangos e abrindo outros blogs de quem nem conheço e nem faço questão de conhecer (vitrine de futilidades, de manequins bem pintados, mas mal-vestidos, leves e ocos).

Continuo achando que relações virtuais promovem o afastamento entre as pessoas. Nada me provou o contrário.

Cada vez que me ponho a ler e ver o que se publica nessas redes sociais (como esta, ou Orkut, ou Myspace, agora o Twitter...) penso no vazio entre e dentro das pessoas e na urgência de preenchê-lo.

Não vou falar mais sobre isso - por hoje...


Vou falar das minhas relações pessoais, concretas e cheias!

Sou apaixonada pela realidade, mesmo ela não sendo linear, parecendo gangorra que pende entre a infância e as projeções futuras, balançando as pessoas, os lugares e as emoções que cabem nesse "brinquedo".

Os cinco sentidos ocupados:


  • verdades (+), mentiras (-) e música (sempre) nos ouvidos;

  • sabores na língua;

  • perfumes nas narinas;

  • calores na pele;

  • cores, letras e belas formas no olhar...

é o que se quer em qualquer relacionamento, é o que eu quero nos meus!


Voltando à pergunta inicial: Primavera nasce no inverno?


Se estivermos atentos, saberemos que crianças, flores, primaveras e primaveras nascem nos solstícios e equinócios; nos dias 22 de todos os meses, nos dias 23 de setembro, todos os anos...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

As bobagens que se escreve






Internet é realmente território livre.
Estou mal impressionada com as bobagens que são possíveis de serem lidas nos microblogs da vida...
Acredito que, quem abre uma conta e se torna seguidor deles, a primeira intenção desse sujeito é a exposição e a manutenção de contatos. E fazer isso com sensatez seria o mínimo.
Quem não deseja se expor tem outros recursos para se comunicar.
Bloquear ou restringir acessos é uma imbecilidade num ambiente onde as redes são abertas.
O traço de personalidade de twitteiros borram as páginas dos seus seguidores.
Numa vitrine virtual dessas, qualquer carne é fresca e qualquer fruta é suculenta.
Isso, deveras, me aborrece.
Mas não sou retrógrada a ponto de defender que só existem contatos verdadeiros no mundo real.
Gosto e me relaciono com pessoas neste ciberespaço mantendo contatos, partilhando ideias, produzindo algo sensível e inteligente, e não apenas com seus poucos caracteres e fotos bem produzidas em suas webcams, imagens copiadas e vazios existenciais.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

São João

"Ut"queant laxis ~
"Re"ssonare fibris
"Mi"ra gestorum
"Fa"muli tuorum,
"Sol"ve polluti
"La"bii reatum,
"S"ancte "I"ohannes.

Palavras claras sairão dos lábios puros

E ressoarão aos ouvidos atentos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

As Coisas que a Gente Fala


Foi numa contação de histórias que tive contato pela primeira vez com este texto de Ruth Rocha. Ele traz sabedoria e profetiza que qualquer um de nós estamos sujeitos a vivenciar momentos onde o uso da palavra, verdadeira ou mentirosa, pode ser determinante na construção do SER.

Se trocarmos os nomes, os lugares e as situações, nas devidas proporções, o texto pode revelar o efeito nocivo das "coisas que a gente fala" sobre aqueles que estão perto e, até, longe de nós.


As coisas que a gente fala
saem da boca da gente
e vão voando, voando,
correndo sempre pra frente.
Entrando pelos ouvidos
de quem estiver presente.
Quando a pessoa presente
É pessoa distraída
Não presta muita atenção.
Então as palavras entram
E saem pelo outro lado
Sem fazer complicação.

Mas às vezes as palavras
Vão entrando nas cabeças,
Vão dando voltas e voltas,
Fazendo reviravoltas
E vão dando piruetas.
Quando saem pela boca
Saem todas enfeitadas.
Engraçadas, diferentes,
Com palavras penduradas.

Mas depende das pessoas
Que repetem as palavras.
Algumas enfeitam pouco.
Algumas enfeitam muito.

Algumas enfeitam tanto,
Que as palavras - que
Engraçado!
- nem parece as palavras
que entraram pelo outro lado.


E depois que elas se espalham,
Por mais que a gente procure,
Por mais que a gente recolha,
Sempre fica uma palavra,
Voando como uma folha,
Caindo pelos quintais,
Pousando pelos telhados,
Entrando pelas janelas,
Pendurada nos beirais.



Por isso, quando falamos,
Temos de tomar cuidado.
Que as coisas que a gente fala
Vão voando, vão voando,
E ficam por todo lado.
E até mesmo modificam
O que era nosso recado.



Eu vou contar pra vocês
O que foi que aconteceu,
No dia em que a Gabriela
Quebrou o vaso da mãe dela
E acusou o Filisteu.



- Quem foi que quebrou meu vaso?
Meu vaso de ouro e laquê,
Que eu conquistei no concurso,
No concurso de crochê?



- Quem foi que quebrou seu vaso?
- a Gabriela respondeu
- quem quebrou seu vaso foi...
o vizinho, o Filisteu.



Pronto! Lá vão as palavras!
Vão voando, vão voando...
Entrando pelos ouvidos
De quem estiver passando.
Então entram pelo ouvido
De dona Felicidade:
- o Filisteu? Que bandido!
que irresponsabilidade!
As palavras continuam
A voar pela cidade.
Vão entrando nos ouvidos
De gente de toda idade.
E aquilo que era mentira
Até parece verdade...



Seu Golias, que é vizinho
De dona Felicidade,
E que é o pai do Filisteu,
Ao ouvir que o filho seu
Cometeu barbaridade,
Fica danado da vida,
Inventa logo um castigo,
Sem tamanho, sem medida!
Não tem mais festa!
Não tem mais coca-cola!
Não tem TV!
Não tem jogo de bola!
Trote no telefone?
Nem mais pensar!
Isqueite? Milquicheique??
Vão acabar!



Filisteu, que já sabia
Do que tinha acontecido,
Ficou muito chateado!
Ficou muito aborrecido!
E correu logo pro lado,
Pra casa de Gabriela:
- Que papelão você fez!
Me deixou em mal estado,
Com essa mentira louca
Correndo por todo lado.
Você tem que dar um jeito!
Recolher essa mentira
Que em deixa atrapalhado!



Gabriela era levada,
Mas sabia compreender
As coisas que a gente pode
E as que não pode fazer;
E a confusão que ela armou,
Saiu para resolver.



Gabriela foi andando.
E as mentiras que ela achava
Na sacola ia guardando.
Mas cada vez mais mentiras
O vento ia carregando...



Gabriela encheu sacola,
Bolsa de fecho de mola,
Mala, malinha, maleta.
E quanto mais ia enchendo,
Mais mentiras ia vendo,
Voando, entrando nas casas,
Como se tivessem asas,
Como se fossem - que coisa!
- um milhão de borboletas!

Gabriela então chegou
No começo de uma praça.
E quando olhou para cima
Não achou a menor graça!
Percebeu - calamidade!
- que a mentira que ela disse
cobria toda a cidade!

Gabriela era levada,
Era esperta, era ladina,
Mas, no fundo, Gabriela
Ainda era uma menina.
Quando viu a trapalhada
Que ela conseguiu fazer,
Foi ficando apavorada,
Sentou-se numa calçada,
Botou a boca no mundo,
Num desespero profundo...

Todo mundo em volta dela
Perguntava o que é que havia.
Por que chora Gabriela?
Por que toda esta agonia?
Gabriela olhou pro céu
E renovou a aflição.
E gritou com toda força
Que tinha no seu pulmão:


- Foi mentira!


- Foi mentira!



Com as palavras da menina
Uma nuvem se formou,
Lá no alto, muito escura,
Que logo se desmanchou.
Caiu em forma de chuva
E as mentiras lavou.



Mas mesmo depois do caso
Que eu acabei de contar,
Até hoje Gabriela
Vive sempre a procurar.
De vez em quando ela encontra
Um pedaço de mentira.
Então recolhe depressa,
Antes dela se espalhar.
Porque é como eu lhes dizia.
As coisas que a gente fala
Saem da boca da gente
E vão voando, voando,
Correndo sempre pra frente.



Sejam palavras bonitas
Ou sejam palavras feias;
Sejam mentira ou verdade
Ou sejam verdades meias;
São sempre muito importantes
As coisas que a gente fala.
Aliás, também têm força
As coisas que a gente cala.


Às vezes, importam mais
Que as coisas que a gente fez...


"Mas isso é uma outra história
que fica pra uma outra vez..."

sábado, 27 de março de 2010

Coffe Express




Café, boas companhias, planos... muitos planos.
Tarde típica da Vila de Paranapiacaba.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Hoje faltou energia elétrica




Adoro quando isso acontece!




O escuro é necessário para clarear as ideias e estimular os sentidos e as habilidades.




Estava ao piano quando o breu tomou tudo à volta. Saí no quintal e puxei conversa com os vizinhos. Ouvi e vi os alunos da aula noturna serem dispensados com seus mp10 servindo de faroletes. Olhei para o céu. A lua e as estrelas reluziam de modo que pareciam satisteitas pela falta da iluminação pública. A visão se adaptava... entrei em casa pela porta da sala sem esbarrar nos móveis. A caixa de fósforo fica na janela da cozinha, iluminada pelo luar. Acesa a chama, ela não aguentou chegar ao quarto onde, tenho certeza, deixei a lanterna na primeira gaveta do criado-mudo. Quanto papel cabe nessa gaveta! Sabia que estava sob o calhamaço... Achei! Silêncio mortal. Preciso ligar para ele. Voz aveludada... fará-me companhia até a luz voltar... tomara demore a noite inteira!


Ahhh... Fogos de artifício e crianças eufóricas gritaram juntas com o berro luminoso das luzes da cidade, que atordoaram minha visão.


Espero que a Companhia Energética tenha outras baixas...

segunda-feira, 22 de março de 2010

Equinócio de Outono ou Minhas Palavras sou Eu

Já passam das duas da manhã do sábado... O ar está fresco e sinto o perfume da dama-da-noite que foi abalada pelo temporal... A cidade silencia, mas as palavras que habitam em mim não querem silenciar. Elas querem extrapolar meus limites, querem ganhar espaço nesta folha de papel, querem preencher o ambiente através da voz do leitor, querem atingir como flecha o ouvinte.
Minhas palavras sou eu. Elas tomaram meu corpo antes mesmo do meu nascimento; já eram escritas, faladas e ouvidas pelos meus ancestrais... Foram se formando, se aglutinando, se modificando e tomando ritmo até pulsarem em mim. O que verbalizo está impregnado no meu sangue.
Tenho “surtos de palavra”, gana de gastar o verbo, seja qual for a linguagem... Não sei se uso o Português, pois a língua está tão cheia de neologismos e estrangeirismos, raízes, prefixos e sufixos de tantas outras línguas e dialetos... Talvez use um brasileirês, paulistês?
Eis um conflito íntimo: será que minhas palavras, o “eu”, atinge o “tu”? O que adianta tantas palavras ao vento, como o perfume da dama-da-noite abalada pelo temporal? Não quero ser perfume, que se dissipa no ar, nem dama-da-noite a despetalar e ressecar sobre o asfalto da cidade! Quero ser temporal, que inunda a cidade, transforma a paisagem, energiza o céu e... abala as damas-da-noite!
Embora tenha esta aparência primaveril, amo o Outono, que fecha ciclos, mas inicia outros (lembrei-me da canção “Águas de Março”). Amo seus fins de tarde coloridos, seus feriados e todas suas lembranças pueris... Que minhas palavras pudessem ser como o Outono: marcantes.
Sofro quando não verbalizo. É como se as palavras não-expressas contaminassem meu sangue, acabando com meu bom-humor. Apaixono-me quando “tu” corresponde “eu”. Sinal que o temporal abalou a dama-da-noite...

Fabiana Paino Granzotto.
10/03/2007.
Nesta foto apareço em ângulo privilegiado, conversando com Fabíola e Gisele, durante atividade no Campus da FSA - "Poéticas das Imagens e Narrativas Visuais em Educação Ambiental" - em pleno Equinócio de Outono (sábado, 20 de março de 2010)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cursos d’água relacionados ao cotidiano

Vista de Santo André no verão de 2008

A dinâmica hidrológica e a geomorfologia regional ditam o cotidiano daqueles que moram na área metropolitana. A rotina diária de quem sai de sua casa para trabalhar, estudar e desenvolver diversas atividades está estritamente relacionada às condições físicas (relevo, clima, hidrografia) e vocação social, econômica e cultural da cidade.

Santo André, onde moro há 32 anos, é uma cidade de muitos rios e córregos - Guarará, Oratório, Apiaí, Meninos, Pequeno, Grande, Carapetuba, Cemitério, Guaixaya, Tamanduateí. Porém, alguns só conheci durante o curso de Geografia, através de mapas. Ignora-se suas existências, modifica-se suas configurações - curvas e meandros, retifica-se, canaliza-se seus cursos naturais e durante boa parte do ano os rios ficam quietinhos. Só se rebelam quando chega o período de chuvas abundantes e suas águas teimam em ocupar o espaço que foi delas.

Vivenciei duas situações de “revolta” do Rio Tamanduateí: uma em janeiro de 1996, quando se tornou uma aventura atravessar o rio, do Centro para o Parque Jaçatuba, à pé, fazendo o percurso, que normalmente leva 15 minutos de transporte coletivo, em 6 horas (pela Estação S. André e Viaduto Adib Chammas); outra em 2004, de carro pela Avenida dos Estados, o rio encheu rapidamente e foi impossível sua travessia para chegar ao Parque Capuava. Em ambas as situações, a solução foi esperar que o nível das águas baixassem e o rio continuasse seu curso.

Pensando em qualidade de vida e economia de tempo e dinheiro, optei por realizar a maioria das minhas atividades no próprio bairro onde resido - Parque Capuava (interflúvio entre o Tamanduateí e Oratório). Moro na Rua Mississipe, que inicia na Avenida das Nações, por onde corre “escondido” o Córrego Guaixaya. Para chegar a uma das escolas que trabalho, localizada no Parque Erasmo, preciso atravessar a avenida, percurso que faço a pé.

Já observei que em dias quentes e secos percebe-se o mal cheio exalado pelas “aberturas” , nas proximidades da Coop; em dias chuvosos, toda a água da enxurrada escoa para a avenida. O asfalto da pista, onde o tráfego de veículos é mais intenso, está todo danificado. As casas mais próximas da avenida apresentam muita umidade.

Há mais de trinta anos atrás o Córrego Guaixaya corria aberto e sua várzea era ocupada por vegetação (mamona) e crianças brincavam enquanto os adultos pescavam - é o que os mais velhos relatam, pois depois do loteamento, planificação e impermeabilização dessa área muitos até desconfiam de que um curso d’água corra sob seus pés.

É fato que a preocupação com rios e córregos aumentam com a chegada da estação úmida. O cotidiano das pessoas é alterado pelo ciclo natural (que deve ser combatido? Combate contra as enchentes? Contra o ciclo natural?) e não se planeja / executa ações efetivas que relevem o conhecimento dessa dinâmica.





Fabiana Paino Granzotto
Santo André, 19 de dezembro de 2009.


(Ed. Ambiental e Sustentabilidade)